quinta-feira, 16 de junho de 2011

Memória Histórica

 Fui convidado, há uns anos, para conferenciar sobre a memória histórica, comparando as ditaduras portuguesa e espanhola. A iniciativa era da Juventude Socialista da Andalucia, secção de Ayamonte, e a organizadora era Marta Navarro Gáscon, uma amiga que por aqui anda.
Sempre que vou a Ayamonte, ter com os muitos amigos que começo a ter nessa vila fronteiriça, perco-me numa discussão sem fim sobre a necessidade de termos memória e de construirmos o nosso futuro com base em experiências passadas.
Tenho dito, muitas vezes, que o problema da construção de Espanha assenta na impossibilidade de esquecerem a Guerra Civil e as suas mortes - milhares, dezenas de milhares...-. A memória histórica, como nuestros hermanos lhe chamam, não é mais do que o reviver e recordar a experiência franquista, para que nunca mais se esqueçam do que foi esse inverno infernal. Essa memória, que construiu alguns fantasmas, impede que haja, por exemplo, diálogo entre esquerda e direita e centralistas e nacionalistas.
Em Portugal esta discussão nunca surgiu.
Em breve chegará a nossa hora.



NB - lembrei-me deste texto a propósito da apresentação dos livros infantis sobre  as mulheres que se destacaram na I República, de Rosabela Afonso,  com ilustrações de Sara Afonso e Carmo Pólvora. A memória histórica é, afinal, património histórico.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A triste realidade

Não tenho a mais pequena dúvida que o grande ciclo político da direita começou no passado domingo.

O que é um grande ciclo político?

É um conjunto de eleições que tem por fim a realização de um projecto ideológico, em estabilidade política. Foi o que sucedeu com a eleição de Sampaio, que permitiu dar início a um ciclo político que terminou com a eleição de Cavaco. Daí para cá, quer queiram assumir, quer não queiram, o que se passou é evidente: uma tentativa da direita assumir o poder em maioria absoluta, que esbarrou, sempre, no receio do Presidente Cavaco em não ser eleito para um segundo mandato. Uma vez eleito, Cavaco anunciou logo ao que vinha: um novo governo.


Daqui para a frente caberá ao Partido Socialista perceber como funcionam os grandes ciclos e projectar a sua ambição: deve começar por ganhar autarquias, voltando ao terreno - foi por onde Guterres começou! -, preparar as legislativas de 2015 e, sobretudo, lançar uma candidatura forte a Belém.

Sem estratégia, táctica e personagens adequados, o ciclo político que vivemos será longo e destruirá, por inteiro, o estado social em que ainda vivemos.

O Partido Socialista não pode adiar o presente, mas tem de perceber como se molda o futuro.


O maior erro de Sócrates, vá-se lá perceber porquê, foi confiar que Cavaco era o parceiro em Belém, que lhe permitira governar com tranquilidade em S. Bento. Nada de mais errado: não houve Presidente que não gostasse de ver a sua gente a governar. Cavaco, é certo, preferia Rio e acredito que ainda tenha a secreta esperança de o ver governar. Mas por ora, é certo, isto chega-lhe...


segunda-feira, 6 de junho de 2011

A vitória da direita, a meia vitória do PCP, a derrota do PS e do Bloco e a incrível, incrível, incrível derrota do PCTP/MRPP

Um partido ter 1,13% dos votos e não eleger deputado e outro eleger 8 com 5,1%, não é uma aberração de um sistema que se quer perfeito?

Eu peço desculpa a todos os vencedores da noite de ontem, mas Garcia Pereira ficou à porta do Parlamento com 62491 votos e o PPD/PSD precisou de 20.432 para eleger cada deputado (o PS 21340, o CDS 27174, a CDU 27553 e o Bloco 36.009)!

Bem sei que o método de Hondt é assim. Mas não nos podemos resignar ao é assim. Ontem, o PCTP e o PAN deviam ter eleito deputado (deputados) por um círculo nacional, que respeitasse a proporcionalidade.

A derrota do PS é tão ou mais poética quanto a composição da vitória do PPD/PSD. Concelhos como Palmela, Évora, Montijo, Setúbal, Lisboa e Chamusca, distritos inteiros como o da Guarda, Viana do Castelo, Bragança, Viseu, Aveiro e Faro, ganhos por Coelho, representam uma hecatombe eleitoral para o PS.

Por isso mesmo, posso garantir-vos uma coisa: o PPD/PSD só não teve maioria absoluta porque o PCP se aguentou como um leão!

Na hora do adeus a Sócrates, não faremos, já, um balanço. Mas assumimos: o Partido Socialista está em crise!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Evidências

Parece evidente que a partir de segunda-feira entraremos num novo ciclo político que terá duas consequências: a direita partilhará o poder central e o Partido Socialista começará a preparar as eleições autárquicas.

Em 2015 teremos eleições legislativas (a crer, como creio, que o ciclo político preencherá a legislatura) e em 2016 as Presidenciais, com muitos, muitos candidatos a perfilarem-se.

Anseio por segunda-feira...